terça-feira, 15 de março de 2011

"Mães com câncer não devem exercer a maternidade".


http://elainecesar.blogspot.com/2011/03/maes-com-cancer-nao-devem-exercer.html

quarta-feira, 2 de março de 2011

"Mães com câncer não devem exercer a maternidade".


Acabamos de chegar do Palácio da Justiça.
Acabo de ter certeza que mais uma etapa foi perdida.
Mais uma acusação foi feita.
Além de ser sustentada todas as outras acusações, foi decidido que a guarda, ainda que provisória, continua permanecendo ao pai.
"A criança esta mais em segurança junto a companhia do pai e da Tia, pois a mãe além de ter uma profissão que não a permite educar uma criança , esta com câncer levando uma gravidez de risco e tem um novo relacionamento."

Hoje já sabíamos que  não seria alterada a guarda, mas não sabíamos que seria acrescentada uma nova acusação.
Minha teimosia me levou lá. E vou estar sempre que possível e impossível. Sou vista como criminosa. Um dos julgadores me aconselhou a ficar em casa.
Tenho fé a cada segundo que alguma luz possa iluminar o caminho desses operários da justiça.
Não ilumina.
Devo esperar o tempo linear do processo como um todo. Hoje foi só mais uma batalha, mas não perdi a Guerra.

O que aconteceu hoje nos deixou de boca aberta, pois percebemos que essa briga não tem fim.
A cada momento novas armas. O que foi determinado deveria ser publicado sem segredo de justiça.

O que se diz sobre a minha profissão, essa que me sustenta e que foi responsável por sustentar o pai de meu filho nesses 3 anos de convivência é de um preconceito que deveria ser julgado como crime. Artistas, cineastas, atrizes, filmakers toda uma classe sendo julgada de forma injusta e preconceituosa. Tenho minha própria empresa ha mais de 15 anos. Trabalhei nas maiores produtoras deste país. Na minha carreira são mais de 300 filmes publicitários, uns 30 documentários, sei la quantos institucionais e alguns trabalhos em teatro. É surreal e mentirosa essa afirmação de não poder cuidar de uma criança.

O que se diz sobre a minha doença, principalmente no caso de se manter afastado um filho da mãe por estar doente; beira a ignorância, falta de conhecimento;
O câncer hoje não é uma doença que carrega um atestado de morte. 
Minha doença esta sendo tratada de uma forma com absoluto sucesso conforme todos atestados e exames que são anexados mensalmente nos autos.
Dentro os casos de câncer, o linfoma é um dos que se obtém mais sucesso. 
Todos acompanharam caso famoso de nossa presidenta que lutou contra um diagnóstico semelhante estando em plena campanha Eleitoral ou da atriz Drica Morais, que venceu uma LEUCEMIA e já retornou ao trabalho.
Se estou no hospital, o ataque vem como uma doença terminal, se pego meu carro pra dirigir ou vou em alguma reunião de trabalho, sou acusada de estar mentindo a doença.
No início foi levantado que estava inventando o tumor, agora fazem dele a razão da impossibilidade de estar com Théo.
E se fosse uma paciente terminal, onde na história da humanidade uma doença impede alguém de ser mãe? E deveria ser um pensamento contrário, nunca tive tanto tempo pra poder estar, cuidar de meu filho. Precisamos desse tempo juntos.
Foi definido que para a criança é melhor ele estar na companhia de uma babá, numa cidade longe passando as tardes vendo televisão (informações dadas por essa mesma babá).

A gravidez corre bem e sem nenhuma indicação de "risco". Não sinto enjoos, não  sinto cólicas.
Mas se assim mesmo o tivesse, mães grávidas que necessitam de uma gravidez de repouso devem se afastar de seus filhos nascidos? De onde vem tanta crueldade?

Perdi meu nome já há algum tempo.
Se referem a mim como Ré, Agravada ou A Parte.
Hoje me vesti desses títulos.


Tive a oportunidade, nesse lugar hoje ouvir outros casos.
A forma que são julgados é de embrulhar o estomago.
É um cenário de filme.
Voce não passa de um número. Um número qualquer.

Estou com câncer sim, grávida e num novo relacionamento.
O amor e a família por perto é crucial ao tratamento.
Qualquer ser humano sabe disso.
O relacionamento com os amigos e todos esse apoio também.
Todos os dias , eu e Fred convivemos com pessoas em tratamento no Hospital Paulistano.
Uma nova realidade se constrói, um novo circulo de amizades surge.
E é claro que o atendimento, que as relações pessoais são fundamentais para que o paciente passe por tudo isso sem terror.
É uma experiência transformadora. No próprio hospital existem várias ações que ajudam no tratamento com a quimioterapia terapeuticamente. Semana passada recebemos a visita de um Golden Retriver. Um cachorro dourado lindo, por mais absurdo que pareça trouxe boas risadas a todos. Queria muito que Théo estivesse por lá.
Tem uma senhora, vou chamá-la de Rosa, chega todos os dias com um sorriso e uma garra que ofusca a presença de todos. Me diz sempre que a inspiro com minha força e humor. Hoje ela chegou narrando a importância das plantas e flores no tratamento.
Uma visão humana e tão verdadeira que deveria ser conhecida por todos.

Naquele lugar, tão sério e tão bonito que pudemos ouvir a nossa sentença, não há espaço para plantas e nem flores.
Não há escuta.
Estou arrasada, mas forte como nunca.
O Fórum é o único lugar que fui condenada por estar doente e grávida, graças a Deus que em outros lugares públicos tenho prioridade, prioridade numa fila, prioridade pra sentar, ou mesmo no atendimento. Há um mundo aqui fora. Graças a Deus.
Não vou morrer como é o desejo explícito e dito de alguém que já disse que me amava.
Preciso encontrar mais e mais pessoas que vivem isso como estou vivendo.
Tenho que arregaçar as mangas e lutar contra essa sordidez que estou envolvida.

O que podemos esperar sabendo que dentro do grupo que é responsável pelo nosso futuro, existem cabeças como a do Juiz Edilson Rodriguez que acha a “Lei Maria da Penha "diabólica" por tornar o homem "tolo e mole"
“A lei Maria da Penha é um conjunto de regras diabólicas. Se essa lei vingar, a família estará em perigo. Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher. As armadilhas dessa lei absurda tornam o homem tolo, mole. O mundo é masculino e assim deve permanecer. No caso de impasse entre um casal, a posição do homem deve prevalecer até decisão da Justiça, já que o inverso não será do agrado da esposa.”

O juiz foi suspenso, mas na ultima terça foi cancelada a punição.
RUTH DE AQUINO Revista Época 667
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Época/1,,EMI214409-15230,00.html

Poderia existir um tribunal maior que julgasse atitudes arbitrárias como esta.
Ou para que julguem com mais atenção com medo de punições.

Hoje no jornal Folha de São Paulo li que STJ acata recurso da família de Sean.
Sean, aquele garoto que foi devolvido ao pai em 2009.  "O STJ entendeu que a sentença do Tribunal Regional Federal do Rio que concedeu a guarda a David Goldman, pai do garoto, tem reflexos diretos no desenvolvimento da irmã de Sean -por isso, sua condição tem que ser levada em conta pela Justiça."
Independente de estar certo ou não,  essa decisão  ocorre mais de um ano depois. Se fosse uma decisão pensando no bem estar das crianças o prejuízo já esta feito. E mais, essa decisão pode não dizer nada no processo. Independente de quem tem a razão o direito de estar com Sean, as medidas deveriam ser tomadas com maior pressa. O garoto esta criando laços na cidade do pai. Por que esses casos não são levados com atenção e urgência?

O blog até agora é o único canal de comunicação que tenho.
Os contatos tem sido incríveis.
Sei que nada, nesse momento mudará o que está sendo definido e que de alguma forma, falar tão abertamente pode estar sendo usado como arma contra mim.
A única arma que tenho ao meu lado hoje para essa guerra é a verdade.
E com ela é que vamos lutar. É nela que acredito.
Fora isso tenho essa garra que sempre fez parte de minha personalidade.
Tenho esse amor gigante.

Cada dia que leio mais sobre Alienação Parental me reconheço nos casos.
No último telefonema, meu filho foi muito agressivo, repetiu várias que não ficaria mais em casa, e que gostava apenas de uma nova tia, amiga do papai que mora em São Paulo.
Disse que essa nova tia era muito mais bonita por que tinha cabelos mais bonitos.
Tudo isso faz parte dessa implantação de uma realidade nova na cabeça de uma criança de 3 anos. Chorei toda a tarde. 
Tenho que me apegar na certeza de  que quando Théo chega, corre para os meus braços e logo nos conectamos com todo amor que sempre houve nessa vida.

Tenho que aprender a lidar com o tempo.
Por agora, arregaço minhas mangas e não vou me abater e nem me calar.
Não vou  mesmo.
E Dona Rosa, obrigada pela orquídea de hoje cedo. Quem me inspira é a senhora.
Seu sorriso segue estampad o em minha mente.
E é nele que vou me agarrar. 

Elaine Cesar